Notícias e publicações

Saiba os motivos pelos quais o Manual de Classificação e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM) pode ser equivocado

Saiba os motivos pelos quais o Manual de Classificação e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM) pode ser equivocado

23 de fevereiro de 2024

Por desinstitute

Como determinamos quais emoções, pensamentos e comportamentos são considerados normais, anormais ou patológicos?

O Manual de Classificação e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM), globalmente e amplamente reconhecido como a “bíblia dos diagnósticos psiquiátricos”, foi publicado inicialmente pela Associação Americana de Psiquiatria em 1952, para estabelecer uma linguagem comum e critérios padronizados na classificação dos transtornos mentais. 

O DSM aplica o modelo médico aos desafios psíquicos. Sua estrutura consiste em uma lista de transtornos, cada um acompanhado por diversos sintomas específicos. O diagnóstico é feito quando o paciente apresenta um número de sintomas associados a um determinado transtorno. 

As revisões do DSM ao longo dos anos têm gradualmente aumentado o número de transtornos mentais catalogados, ao mesmo tempo em que alguns foram eliminados devido a mudanças sociais ou de entendimento. Entretanto, essas alterações frequentemente são consideradas contraditórias. Muitas vezes, questões morais e sociais são transformadas em problemas médicos para  estabelecer certos padrões de comportamento em relação ao que é considerado “normal”. Logo, os problemas estruturais de cada sociedade e a lógica normativa prevalente não são considerados.

Em termos de comportamento, os transtornos listados no DSM não possuem marcadores biológicos, como ocorre em doenças como a diabetes. A determinação do que é considerado um transtorno é uma escolha discricionária feita pelos profissionais responsáveis pela elaboração do Manual.

Essa perspectiva pode ser vantajosa para uma estrutura medicalizante e patologizante, como a indústria farmacêutica, que comercializa suas pílulas “milagrosas”; e também para o sistema neoliberal, que culpabiliza o indivíduo por problemas que têm origens estruturais.

Recentemente, muitas pessoas têm compartilhado nas redes sociais conteúdos do DSM com o intuito de identificar ou patologizar a si mesmas ou aos outros, sem considerar as problemáticas associadas ao Manual. O episódio adverso de alguém já se torna motivo para a patologização indiscriminada, desconsiderando a complexidade de cada ocorrência.

É crucial problematizar a forma como profissionais de saúde e o público em geral têm tentado encaixar as sensações na caixinha da patologia. Também é importante lembrar que existem pessoas que se beneficiam do sofrimento psíquico de uma sociedade. Por isso, é fundamental resistir às correntes que tentam nos aprisionar.

 

voltar