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A luta antimanicomial é antirracista
21 de março de 2024
O Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial marca o trágico acontecimento em Shaperville, uma profunda cicatriz na história do embate contra o apartheid na África do Sul.
Em 21 de março de 1960, 69 pessoas perderam suas vidas em Joanesburgo enquanto protestavam pacificamente contra a Lei do Passe, que impunha restrições à liberdade de circulação dos negros, obrigando-os a portarem documentos específicos.
A segregação racial, vista no apartheid da África do Sul, ocorreu em diferentes formas ao longo da história e em várias instituições no mundo todo. Um exemplo disso é a maneira como pessoas pretas eram segregadas por meio de um discurso eugenista e manicomial, que não só simbolicamente, mas organicamente, violentou corpos negros através da lógica do biopoder.
Este discurso, enraizado na pseudociência e no racismo científico, perpetuou a ideia da inferioridade de pessoas pretas, legitimando assim sua marginalização em hospitais psiquiátricos, muitas vezes sem justificativa clínica.
A violência se estendia além do físico, permeando costumes, hábitos e cultura, uma vez que retratava a população negra como uma ameaça à ordem social, equiparando negritude com loucura ou perigo.
Atualmente, a falta de acesso democrático à saúde mental para a população negra contribui para a mesma segregação pela escassez de direitos básicos.
As ações psicossociais abrem caminho para a construção e fortalecimento de políticas públicas de saúde mental, bem como desempenham um papel fundamental na interrupção dessa dinâmica racista de manicomialização e na preservação das vidas das pessoas racializadas.
Logo, é crucial que a discussão sobre saúde mental da comunidade negra seja integrada urgentemente à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Dessa forma, com uma abordagem antirracista, poderemos verdadeiramente avançar rumo à eliminação da discriminação racial em todas as suas formas.