Notícias e publicações

Adelina Gomes: as mãos que moldaram o invisível

Maio é o mês da luta antimanicomial. Ao longo do mês, o Desinstitute vai destacar personalidades fundamentais dessa história — como Adelina Gomes.

Adelina Gomes: as mãos que moldaram o invisível

14 de maio de 2025

Por desinstitute

Adelina Gomes nasceu em 1916, em Campos (RJ), filha de camponeses. Desde cedo, viveu sob expectativas de submissão e silêncio, comuns a mulheres negras e pobres de sua época.

Com formação primária e habilidades em trabalhos manuais, seguiu o destino imposto: ser invisível. No entanto, Adelina carregava um potencial criativo.

Aos 18 anos, viveu um amor que foi proibido por sua mãe. O conflito familiar e o sofrimento emocional resultaram em crises que levaram sua família a interná-la em um hospital psiquiátrico.

Na década de 1940, Adelina foi internada no Centro Psiquiátrico Nacional. Lá, passou a ser vista apenas como “agressiva”, o que gerou a perda da sua identidade, sobretudo por meio dos rótulos da psiquiatria.

Mas seu talento pela arte foi notado pelo artista Almir Mavignier, que a convidou para o ateliê de pintura criado por Nise da Silveira. A arte passou a ser um espaço de resgate de sua humanidade.

Começou pela modelagem em barro, criando figuras femininas marcantes. Na pintura, representava seus mundos internos por meio de formas simbólicas que a medicina tradicional não sabia interpretar.

Sua obra foi comparada ao surrealismo de Victor Brauner. Produziu cerca de 17.500 peças entre pinturas, esculturas, flores de papel e crochês. 

Apesar de sua vasta produção, Adelina continua pouco reconhecida. Como muitas mulheres negras e pobres, sua história foi apagada pela história oficial.

Sua arte é resistência, memória e identidade. Adelina encontrou na criação uma forma de existir. Adelina não foi um diagnóstico: foi uma artista.

voltar