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Lima Barreto: entre o manicômio e a literatura, uma vida de enfrentamento

Em maio, mês da luta antimanicomial, o Desinstitute segue resgatando histórias de figuras marcadas pela exclusão nos manicômios.

Lima Barreto: entre o manicômio e a literatura, uma vida de enfrentamento

14 de maio de 2025

Por desinstitute

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 1881, no Rio de Janeiro. Era filho de um tipógrafo e de uma professora, ambos negros, ex-escravizados e filhos de escravizados. Cresceu entre os livros, o racismo e a pobreza.

Desde jovem, enfrentou o preconceito por ser um intelectual negro em um país que havia acabado de abolir a escravidão. Foi acusado de “amargura” e “desequilíbrio” por denunciar o racismo, o elitismo e a hipocrisia da sociedade brasileira.

Em 1914, Lima Barreto foi internado pela primeira vez no Hospital Nacional de Alienados. Diagnóstico: alcoolismo crônico e “paranoia”. Mas muitos estudiosos apontam que sua internação foi também um silenciamento político.

Mesmo internado, Lima Barreto não deixou de escrever. Produziu diários, reflexões e relatos sobre os absurdos que presenciava. Sua vivência  confrontava com o abandono e a violência do sistema manicomial.

Em sua obra “O Cemitério dos Vivos”, escrita a partir das internações, o escritor narra a experiência do confinamento forçado. É um testemunho brutal sobre como a loucura era produzida pela exclusão e pelo descaso social.

Também autor de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, Lima Barreto denunciou a falsa modernidade da Primeira República, o militarismo, a burocracia e o racismo estrutural. Suas críticas incomodavam as elites dominantes.

Lima morreu em 1922, aos 41 anos, pobre, isolado e com sua obra subestimada pela elite intelectual branca da época. Foi reconhecido como gênio literário somente décadas depois de sua morte.

Seu apagamento não foi casual. Foi consequência de um país que marginaliza quem confronta a desigualdade, especialmente por um homem negro, pobre e crítico do sistema.

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