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O pânico moral pode agravar os desafios relacionados às drogas K

O pânico moral pode agravar os desafios relacionados às drogas K

9 de fevereiro de 2024

Por desinstitute

As drogas K, como a K2, K4 e K9, conhecidas também como spice, black mamba, canabinoides sintéticos ou “maconha sintética”, têm ganhado cada vez mais destaque na sociedade. A disseminação do uso, especialmente entre os jovens nas periferias, coloca esse tema em evidência na mídia, frequentemente associado a termos pejorativos como “droga zumbi” ou de “efeito zumbi”.

Contudo, é crucial destacar que adotar um discurso alarmista e de pânico moral, que demoniza a substância, é uma abordagem ineficaz para reduzir o uso e minimizar os danos associados a ele. Pelo contrário, tal postura contribui para a estigmatização das pessoas que fazem o consumo problemático dessas drogas, afastando-as do cuidado adequado em saúde e dificultando o acesso a outros direitos.

Essa dinâmica já foi observada em outros momentos da história, quando drogas como a maconha e o crack foram alvo do mesmo tipo de desumanização. Ou seja, embora a substância mude, a tendência de estigmatização persiste.

Os efeitos do proibicionismo são visíveis em diferentes contextos, como no Reino Unido, onde o uso em presídios aumentou após a implementação de testes toxicológicos em pessoas privadas de liberdade. Os canabinoides sintéticos, não detectáveis por esses testes, tornaram-se uma alternativa para evitar punições. Entretanto, a proibição dessas substâncias resultou na introdução de versões ainda mais perigosas e desconhecidas.

No Brasil, o uso de canabinoides sintéticos não é recente, apesar de ter ganhado mais visibilidade nos últimos meses. A primeira identificação no país ocorreu em 2009, quando a Polícia Federal encontrou amostras em São Paulo. Em 2015, a pesquisa do Global Drug Survey revelou que 1,8% dos participantes brasileiros relataram o uso desses canabinoides no ano anterior, especialmente entre jovens de classe média. A partir de 2016, os canabinoides sintéticos começaram a ser frequentemente apreendidos em presídios.

Nos últimos anos, observamos uma difusão do uso entre jovens em situação de vulnerabilidade social, o que dificulta ainda mais uma estratégia de cuidado que seja abrangente. 

Diante desse cenário, o cuidado em liberdade, a redução de danos e o fortalecimento de políticas públicas em saúde mental faz-se necessário como um instrumento para a autonomia das pessoas e combate ao estigma, o que poderá garantir a saúde e outros direitos humanos fundamentais das pessoas envolvidas.

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