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Psicolonização e o DSM: a colonialidade da saúde mental
O DSM não é neutro. Ele nasce de uma lógica colonial e capitalista que transforma o sofrimento das populações oprimidas em “transtorno”.

11 de junho de 2025
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), frequentemente tratado como uma “bíblia” da psiquiatria, não é um instrumento neutro. Ele nasce e se desenvolve a partir de uma lógica colonial, imperialista e capitalista. É produto de um contexto histórico que normalizou a exploração, a racialização da loucura e o controle social. Como bem colocam Kaori Wada e Karlee D. Fellner no artigo Decolonizing Psychiatric Diagnosis: Turning the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders on Its Head (2025) (Descolonizando o Diagnóstico Psiquiátrico: virando o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais de cabeça para baixo), é urgente virar o DSM de cabeça para baixo e questionar sua base epistemológica.
Wada e Fellner denunciam como o DSM opera segundo uma visão de mundo eurocentrada, patologizando formas de sofrimento e existência que fogem ao ideal normativo branco, ocidental, capitalista. O que se apresenta como diagnóstico clínico, muitas vezes, é o resultado de processos históricos de colonização que seguem ativos nas estruturas sociais e institucionais, inclusive no campo psi. Nesse sentido, a psicolonização é transformar em transtorno aquilo que, na verdade, é uma resposta legítima à opressão sistemática.
No Brasil, país moldado por séculos de escravidão, genocídio indígena e desigualdade estrutural, a importação desses modelos diagnósticos precisa ser criticada e revista.
O sofrimento de populações historicamente marginalizadas não podem seguir sendo enquadrados como apenas um desvio individual ou um problema químico a ser medicalizado. Os profissionais da saúde mental precisam compreender a dinâmica colonial-capitalista que atravessa os corpos, as subjetividades e o sofrimento psíquico, sem deixar que o cuidado em saúde mental vire apenas mais uma forma de controle.
Descolonizar o diagnóstico é abrir espaço para saberes plurais, para o reconhecimento das violências históricas que moldam a saúde mental, e para uma escuta comprometida com a diversidade e com a contracolonialidade.
Descolonizar o diagnóstico é tarefa ética de quem atua na saúde mental.