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Transformando barbárie em poesia e luta: Roque Junior sobreviveu à oito internações e hoje publica livros antimanicomiais

O manicômio lhe impôs privação de liberdade, mas o escritor e militante, entrevistado para o especial Conversa Livre, deu a volta na vida e hoje devolve ao mundo dezenas de livros autobiográficos sobre a luta contra os manicômios

#ParaTodesVerem: Roque Junior em sua biblioteca, veste um chapéu e toma chimarrão
#ParaTodesVerem: Roque Junior em sua biblioteca, veste um chapéu e toma chimarrão

1 de junho de 2022

Por desinstitute

Como gosta de lembrar, Roque Junior conversou com o Desinstitute diretamente da Serra gaúcha. Mas essa voz que vem de longe não é nada despretensiosa. Ele quer soterrar a lógica antimanicomial com as milhares de páginas que escreve freneticamente contra a barbárie, a qual conhece bem. O militante e escritor independente narra e registra suas experiências e reflexões para eternizar sua história, fazendo dela um instrumento para o movimento antimanicomial no Brasil. Ele não quer que nenhuma atividade realizada e promovida seja esquecida e, portanto, toma notas, edita e publica para que o acúmulo de conhecimentos produzidos nesses espaços coletivos fique disponível para as próximas gerações.

Roque Junior é enfático: criar um mundo sem manicômios não é uma utopia, é plenamente possível e era um horizonte que até pouco tempo estava em construção. No entanto, com a ofensiva conservadora na última década, novas formas de manicômios se impuseram e distanciaram o Brasil desse “sonho possível”, como caracterizou o escritor. Destacadas pelo entrevistado, entre essas modalidades lucrativas para setores da sociedade, estão as Comunidades Terapêuticas (CTs) e a medicalização excessiva das pessoas em sofrimento psíquico.

Na verdade, se pensarmos que a história das instituições manicomiais e da ampla patologização e segregação da loucura se inicia, de fato, há não muito mais de 200 anos, torna-se mais fácil entender que é possível destruir essas estruturas e substituí-las completamente por serviços públicos de cuidados em liberdade.

O manicômio, em todas as suas versões, não é um dado da natureza, ele não nasce junto com a humanidade e por ela pode ser destruído. É o que pensam pessoas como Roque Junior. Além disso, Junior dá pinceladas do que seria, afinal, este mundo no qual o direito a enlouquecer seria respeitado e liberado. Ao longo da entrevista, ele dá mostras de que o ser humano teria muito espaço para se expressar, seja por meio da poesia, do teatro, da fotografia, da música e outras múltiplas possibilidades.

Como ele, cada um e cada uma poderia praticar a TOL – Terapia Ocupacional Literária, ideia originada da mente de um homem que arranca da sociedade o seu direito e espaço à criatividade. As próprias práticas de cuidados em liberdade já oferecidas pelos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), muito referenciadas por Junior, são uma prévia de como seria a vivência da loucura em um mundo em que o caráter obsoleto do manicômio seja reconhecido e este seja completamente abolido.

O militante possui uma “mente inquieta” que se consterna diante dos retrocessos promovidos pelo atual governo de Jair Bolsonaro, como a defesa do eletrochoque, forma de “tratamento” à qual Roque Junior foi submetido sem saber em uma de suas internações. No entanto, Roque Junior não esmorece, ele acredita que a militância antimanicomial, da qual participa em vários espaços, como o Fórum Gaúcho de Luta Antimanicomial e a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila), está mais aguerrida do que nunca.

Ao final da entrevista,  Junior pediu para recitar dois poemas de escritoras que, como ele, sobreviveram a longas internações. Além de divulgar o próprio trabalho, o escritor se empenha na valorização e difusão dos escritos produzidos por outros e outras militantes que dedicaram sua vida à resistência contra o poder da lógica manicomial e outras opressões, como o machismo e a repressão política contra os  lutadores e lutadoras sociais.

Roque Junior – “Duas poesias! Infelizmente, essas pessoas, já falecidas, foram internadas em hospícios. Claudina Pereira de Pereira[i] que nasceu em 1940 e faleceu em 2013. Ela foi internada aqui no hospital São Pedro no Rio Grande do Sul [Porto Alegre]. Ela teve 23 internações. Aí um escrito chamado Ayrton Centeno publicou [o escritor organizou a obra Alma no Espelho (1994), que reúne textos de Claudina Pereira de Pereira]: ‘Que são frases?/ que é época?/ que são períodos?/ que é proibir terminantemente?/ que é tomar medidas drásticas?/ quem lê e escreve, encontra o caminho certo?/ que é batalhar?/ que é sistema?/ que é esquema?’. Agora da sergipana Jacinta Velloso Passos[ii] (1914-1973), ela ficou internada anos em manicômios. Aí vem um fragmento: ‘Quando eu não for mais um indivíduo, eu serei poesia. […] Eu não serei eu, eu serei nós, serei poesia permanente, poesia sem fronteiras’ [dos Cadernos do Sanatório]. Só para lembrar que foram encontradas 3.348 páginas escritas por ela [Fonte: Biografia de Jacinta Passos – Canção da liberdade (2010), organizada por Janaína Amado].  

A entrevista a seguir faz parte do Especial Conversa Livre, uma série de entrevistas, promovida pelo Desinstitute em referência ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado no último 18 de maio.

Entrevista

Desinstitute – Que tal começar do início? Como você ingressou na luta antimanicomial e na Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila)?

Roque Junior – Na verdade, em 1990 eu tive a minha primeira internação de um total de 8. Entre 1990 e 2007, foram oito internações psiquiátricas. Totalizando mais de 370 dias. Passou um tempo depois que reiniciei um tratamento, eu voltei para a faculdade e fiz metade dos cursos de sociologia e história. Em 2014, eu escrevi o meu primeiro livro. Um pouco antes eu tive contato com eventos acadêmicos na área de psicologia. A partir disso, foi uma sequência. Como percebi uma falta de continuidade nos eventos, resolvi correr atrás do Fórum Gaúcho de Saúde Mental por este ter uma atuação contínua. A partir de julho de 2018, comecei a atuar mais assiduamente. Hoje atuo organicamente e vou a todas as reuniões da Renila [Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial].  

Desinstitute – Como você combate estereótipos e rótulos na sua vida e militância? É difícil convencer as pessoas de fora da luta de que o cuidado em liberdade é o caminho para a dignidade?

Roque Junior – Quando você sai do manicômio, você sai com medicação dopante. Esse período pós-internação é complicado. Eu tive mais uns dois anos, além da internação, em que eu estive afastado da sociedade. Depois de cada internação, eu chegava a ficar dois meses sem sair do meu bairro. Eu fiquei cerca de cinco anos sem tratamento, depois um dos psiquiatras que me cuidou, me indicou um livro chamado “Uma mente inquieta”, de Kay Redfield Jamison. E eu uso “bipolaridade” entre aspas, porque eu não considero uma doença. Eu acredito que se a pessoa souber aproveitar a vida pode ficar até melhor. Acredito que eu não teria escrito os meus 65 livros se não fosse por essa condição.

Em vários momentos, eu tive acompanhamento de terapeuta ocupacional. Desde 2009, praticamente semanal está sendo minha psicoterapia, e a cada dois meses eu vou no psiquiatra, então, não é só de medicamento que vive o cuidado.

A pessoa que foi internada uma vez vai estar com a tarja na cabeça: “maluco”. E disso para ser internada muitas vezes é só um passo. Qualquer coisinha que tenha feito é motivo para nova internação. Assim, vai sendo jogada no manicômio.

Desinstitute – Para você, enquanto pessoa que foi privada de liberdade em instituições manicomiais, militante e pensador da luta antimanicomial, como está sendo atravessar o momento político atual do país, marcado pelo desmonte de políticas públicas de saúde mental? Qual tipo de medida você mais teme nesse momento?

Roque JuniorNa verdade, tem uma questão que eu quero salientar aqui: os hospitais psiquiátricos e as comunidades terapêuticas visam o lucro, então, têm finalidades financeiras: quanto que uma pessoa dá de lucro para uma Comunidade Terapêutica (CT) ou para um hospital psiquiátrico? Isso é uma pergunta que deve ser feita: o quanto o Estado paga para uma CT internar uma pessoa que tem algum problema com álcool e outras drogas?

Por que muitos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) não estão tendo a terapia ocupacional e os materiais necessários? Até o terapeuta ocupacional foi tirado de muitos serviços, por que isso? Porque o dinheiro está sendo colocado nas Comunidades Terapêuticas, por exemplo. A cada ano são conveniadas mais centenas de comunidade para serem utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, o SUS vai pagar mais leitos hospitalares em comunidades terapêuticas. E nós, antimanicomiais, somos a favor justamente do oposto disso, defendemos os leitos em hospitais gerais.

Ainda bem que hoje não há mais tantas pessoas que foram internadas em manicômios. Há décadas, lá em Minas Gerais, existia até o “Trem de doido” [a existência desse trem está narrada, inclusive, em um dos contos de Guimarães Rosa, “Sorôco, sua mãe, sua filha”, publicado no livro Primeiras Estórias[iii]], que transportava para o hospício de Barbacena pessoas retiradas da sociedade por sofrerem preconceito, como prostitutas, grávidas solteiras, dissidentes políticos, entre outros.

Mas, de certa forma, isso está voltando, não dá para aceitar de forma alguma a prática das comunidades terapêuticas. São depósitos de gente. De lá, as pessoas entram em sofrimento e saem piores. São exploradas por essas instituições na construção de novos prédios, por exemplo.

É difícil passar uma semana que não tenha um retrocesso na saúde mental. Mias recentemente, um que me preocupou muito logo no início em 2019, foi a proposta de volta do eletrochoque[iv]. O próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) entende que para fazer eletrochoque tem que ter anestesista, e toda uma estrutura para garantir socorro e evitar o óbito.  

Na época em que eu recebi eletrochoque [durante uma das internações], eu não soube. Fiquei sabendo mais de dois anos depois, quando um familiar me contou que teve que dar uma autorização para o procedimento. Sobre a eletroconvulsoterapia, existe uma pesquisa muito interessante de um professor da Universidade Federal de Santa Catarina [Professor Walter Ferreira de Oliveira, do Departamento de Saúde Pública/UFSC[v]]. No artigo, “Eletroconvulsoterapia (ECT)/Eletrochoque: A produção de evidências sobre seu uso, eficácia e eficiência”, publicado em 2019, ele analisou muitos artigos acadêmicos e os confrontou. Ele mostra que mesmo os que defendem o eletrochoque não têm comprovação científica de qualquer resultado positivo fora do curto prazo.

Desinstitute – Gostaria que você falasse sobre algumas de suas obras que concorreram a prêmios: A Militância na luta antimanicomial e na “bipolaridade” e Terapia Ocupacional Literária (TOL). O que seria a “Terapia Ocupacional Literária?”

Roque Junior – Eu cheguei a 65 livros publicados. No meu site, http://www.roquejr.com.br, há muitos livros disponíveis, não precisa fazer cadastro. Só ir lá baixar e ler. Existem livros meus em bibliotecas para acesso e empréstimo. E muitos livros doados por aí.

Eu quero falar um pouco da TOL – Terapia Ocupacional Literária. Em 2016, eu estava em uma palestra, como conferencista, na Universidade de Passo Fundo (UPF), tive esse insight e eu até parei para anotar. Eu não sei se existe, se alguém já tinha dito isso antes. A TOL não se resume à escrita, mas tem a ver com todo o processo de publicar um livro, conseguir apoio para financiar e divulgar e até se inscrever em concursos. É toda uma sinfonia de coisas.

Desinstitute – Outras pessoas que passaram por internações ou por sofrimento psíquico te procuram para conversar sobre os seus livros?

Tenho sempre aconselhado outras pessoas a fazerem isso também, a tirar das gavetas as suas anotações e a procurar anotar em um caderno. Tenho buscado transmitir essa experiência para outras pessoas, como a Elisleide Bomfim, atriz e militante lá da Bahia. Troco umas ideias com ela. A ideia é que as pessoas possam fazer seus livros. A gente criou uma certa rede com pessoas com “bipolaridade” ou outros diagnósticos.

Desinstitute – Então, você entende seu processo de escrita como terapia. Quais outras formas de expressão podem ter esse caráter terapêutico?

Roque JuniorA literatura é uma forma de eternizar muitas coisas. Os meus livros são todos autobiográficos, reais. Normalmente, são as coisas que acontecem no meu cotidiano que eu acabo transformando nesses livros e multiplicando o acesso. A literatura é minha segunda psicóloga. É também a minha segunda catarse. Além disso, gostaria de dizer que há inúmeras práticas em terapia ocupacional e outras formas oferecidas nos CAPS, como a educação física, o teatro, a música e suas multiplicações.

A música pode ser o instrumental, a cantoria, escrever partituras, existem muitas formas que acabam tirando as pessoas do sofrimento, e isso incluí as pessoas que fazem uso problemático de álcool e outras drogas. Nesse processo, até acabam elaborando e dissolvendo suas angústias.

Desinstitute – Falamos de retrocessos, agora vamos falar de avanços: como você imagina um mundo sem manicômios, lá teríamos direito à loucura? O que você diria para alguém que considera isso utópico?

Roque JuniorQuero aproveitar e dizer que isso não é utopia. Não é um sonho inalcançável que não tenha como ser realizado. A nossa Lei aqui do Rio grande do Sul, por exemplo, tem 30 anos [Lei da Reforma Psiquiátrica do Estado do Rio Grande do Sul, Lei Estadual nº 9.716, de 1992], foi aprovada quase uma década antes da nacional. A Lei obriga o fechamento progressivo dos manicômios e o aumento dos serviços substitutivos. Era uma realidade que estava acontecendo até 2016.  

Tanto é um sonho possível que na Itália houve a Reforma Psiquiátrica [em 1978]. Na qual, teve forte atuação o psiquiatra Franco Basaglia [principal liderança do movimento Psiquiatria Democrática]. Foi ele quem utilizou a expressão holocausto para designar o que acontecia em Barbacena [Minas Gerais], quando ele visitou o Brasil.

A gente consegue acabar com os manicômios se a luta crescer. Há muitos retrocessos, mas não vamos desistir, agora que está difícil, parece até que há mais gente mobilizada, resistindo. Há muita gente que estava calada e parada que está se mobilizando de novo.

Desinstitute – Nesse sentido de construir esse mundo, qual é a importância de se garantir o protagonismo das pessoas que foram privadas de liberdade em manicômios e dos usuários dos serviços substitutivos do Sistema Único de Saúde (SUS) na luta antimanicomial?

Roque JuniorEu sempre repito que sou um usuário dos serviços substitutivos e não só do SUS. O protagonismo é na luta orgânica. Como Fórum Gaúcho de Saúde Mental, a gente trabalha nessa questão, a gente entende que todo o cidadão tem sua história, tem sua identidade, tem seu nome. As pessoas não podem ser resumidas a números. Defendemos que as pessoas possam viver o anormal. Tudo isso com o protagonismo e com o empoderamento dessas pessoas. No Fórum Gaúcho de Saúde Mental, foi tirado um mote de várias atividades: “Quero meu direito de enlouquecer”. Quero meu direito de enlouquecer!

Temos o Mental Tchê em São Lourenço do Sul [no Estado do Rio Grande do Sul], que reúne milhares de pessoas, principalmente usuários que têm direito livre ao microfone. Há também a Parada Gaúcha do Orgulho Louco, organizada pelo Fórum Gaúcho de Saúde Mental, [no Estado do Rio Grande do Sul], que passa pelas ruas de Alegrete [no Estado do Rio Grande do Sul].

Desinstitute – Notamos muita gente ao nosso redor, com mais intensidade a partir do agravamento da crise econômica e da pandemia, relatando mal-estar e sofrimento psíquico. Nossa sociedade está em sofrimento? Por que isso acontece e como podemos criar uma sociedade que respeite a saúde mental e as diferentes necessidades?

Roque JuniorEu tenho um dado que é bem alarmante. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vinha alertando antes da pandemia sobre o aumento da incidência de casos de problemas de saúde mental. As pessoas hoje em dia quase não têm tempo para o lazer, para o ócio. Pensadores falam sobre a importância do ócio criativo. São necessários descansos dentro das jornadas de trabalho. E, principalmente, nos grandes centros acontece de as pessoas passarem três horas no ônibus. A própria empresa que ela trabalha é um “porre”. A dificuldade de convivência é muito grande e cria um clima propício para o sofrimento.

Além disso, diante da crise, ao invés do governo aumentar, está retirando profissionais da área de saúde mental dos serviços públicos. Não se está investindo nos cuidados em liberdade.

Notas:

[i] Segundo as pesquisadoras Regina Longaray Jaeger e Tania Galli Fonseca, em artigo “Explorando as forças da escrita no acontecimento loucura”, de 2013, Claudina Pereira ficou internada por quase três décadas.

[ii] “Mulher, feminista, comunista, separada do marido, empobrecida, louca. Muitos foram os estigmas que Jacinta Passos enfrentou” (AMADO, org., 2010, p.337). A militante foi internada pela primeira vez em 1951: “Em novembro, após regressar do IV Congresso Brasileiro de Escritores em Porto Alegre, sofre no Rio grave crise nervosa, com delírios persecutórios. Internada em sanatório particular em Botafogo, é diagnosticada como portadora de esquizofrenia paranoide, então considerada uma doença progressiva e irrecuperável. Nessa internação e nas seguintes, é tratada à base de eletrochoques, injeções de insulina e barbitúricos” (Jacinta Passos – Cronologia. Disponível em; https://jacintapassos.com.br/cronologia/). Segundo a mesma cronologia, em 1958, Passos é presa acusada de subversão e, posteriormente, é internada novamente em um sanatório, por supostamente sofrer de “delírios persecutórios”. Em seguida, ela sai da casa dos familiares e volta a viver na extrema pobreza em Petrolina, em Pernambuco. Apesar da perseguição, militou no Partido Comunista até o fim de sua vida.

[iii] “Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe”, trecho do conto do escritor Guimarães Rosa nascido em Minas Gerais.

[iv] Em fevereiro de 2021, o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, nomeou o psiquiatra Rafael Bernardon Ribeiro para o cargo de coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas. Ribeiro é conhecido pela defesa da chamada eletroconvulsoterapia e sua condução ao cargo gerou reação no campo antimanicomial. Dois anos antes, em fevereiro de 2019, poucas semanas após a posse do governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde produziu uma nota técnica (NOTA TÉCNICA Nº 11/2019-CGMAD/DAPES/SAS/MS) sinalizando uma série de mudanças na diretriz da política nacional de saúde mental, entre estas, recomendação para a compra de equipamentos de eletroconvulsoterapia (ECT) para utilização no SUS, além de defender a internação de menores de idade nos hospitais psiquiátricos e pregar a abstinência de pessoas que fazer uso problemático de álcool e outras drogas, o que contradiz a aposta na política de redução de danos, consolidada há algumas décadas no país. Na ocasião, após forte reação, o governo afirmou que as medidas ainda passavam por avaliação.

[v] Segundo o autor, “O eletrochoque pode provocar sedação e, de forma temporária, controlar alguns sintomas dos transtornos mentais. Mas a mera supressão de sintomas não pode ser a essência da terapêutica e da busca da recuperação. O sucesso do tratamento é indissociável das condições integrais de vida dos usuários e de suas famílias, nos territórios onde se inserem” (OLIVEIRA, 2019, p.64).

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